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terça-feira, junho 05, 2007

Na estrada VIII




Então absortos com toda a situação mágica da viagem, a trupe nem viu a noite abraçar o céu, seguiam conversando, tentando decidir se ficariam em Alto, ou se iriam com Arcanjo para Cavalcante. Arcanjo disse que el@s poderiam ficar na casa de Selma, onde ele iria ficar, disse que se quisessem poderia passar a noite de quinta-feira lá e na manhã de sexta el@s veriam o que fazer. Então como um holofote gigante surgiu do lado direito da estrada uma... uma... não sei como adjetivar aquela Lua, se hovesse uma palavra que fosse a soma de todos os adjetivos que têm carga semântica vinculada ao belo, seria essa a palavra. Todos, se calaram e ficaram observando a Lua subir no céu dentre as serras da Chapada dos Veadeiros. De repente, numa curva, a Lua passou do lado direito da estrada, para a frente. Então foi como se @s viajantes estivessem indo diretinho para dentro da Lua. Ela ficava ali hipinotizando tod@s, como uma meta a ser atingida, como se estivessem flutuando no espaço em direção ao satelite natural mais conhecido do sistema solar.
- Vou passar na casa de um amigo meu em Alto Paraiso, dai vocês pensem bem se vão comigo até Cavalcante.
- Certo, acho que a gente vai seguir a viagem.
- É não foi por acaso que encontramos um Arcanjo!

(risos)

quarta-feira, maio 09, 2007

Parentesis

E com aquela fumacinha agradável, Lis, que não fuma, começou a se lembrar do início da viagem, quando ela ainda nem tinha certeza direito se viajaria ou não naquele dia...
Se lembrou da primeira conversa com Marnin sobre a viagem e de tudo que rolou até Bia e ela sairem de Goiânia e encontrarem Marnin na esplanada.

Lis num ímpeto costumeiro perguntou numa conversa pela internet a Marnin:
- Bem, o que você vai fazer no feriado?
- Estou vendo de ir para São Jorge com o Lucas..
- Sério mesmo? O Lucas é furão, vamos comigo para Chapada?
- Como?
- De carona.
- Você vem para Brasília ou eu vou pra Goiânia?
- Eu vou pra Brasília. Vamos na quinta?
- Só posso depois do almoço...
- Certo, então eu saio de manhã daqui.
- Combinado!

Nessa combinação tão rápida nenhum dos dois acreditou que de fato iriam para Chapada. Era um domingo e Lis foi para o ensaio do Grupo de Percussão que participava. Com muita ansiedade da nova viagem, esquecera que o Grupo se apresentaria nesse feriado, no final do ensaio se deu conta, mas preferiu não desistir da viagem, nesse bote, Bia se encaixou:
- Lis, você não vai apresentar?
- Não, vou viajar.
- Pra onde?
- Chapada, vamos?
- Como?
- De carona, eu, o Marnin e você. Está a fim?
- Que dia?
- Quinta!
- URRUL! Fechou! Vamos para Chapada!

Com sua alegria saltitante, Bia puxou Lis pelo braço e na praça pulavam como duas crianças, iam para chapada.

No decorrer da semana a combinação estava estável, porém, no dia anterior, Bia telefonou para Lis:
- Lis, não vou para sua casa, vou ficar por aqui porque tenho que terminar um lance do trabalho, mas às 5h da manhã estarei na sua porta para irmos para a BR!

Lis disse "ok" mas logo pensou "isso não vai dar certo".. Deu o recado para Marnin e imaginou que teria pensado o mesmo. Bia é famosa no seu grupo festivo por se atrasar ou furar com as pessoas, pode ser charme ou pura distração, mas o fato é que sempre acontece. Ao dormir, Lis colocou o despertador para as 5h30, esperando ser acordada por Bia. Às 5h45, depois do "modo soneca" do despertador, num pulo pensou "A Bia nem deu as caras nem telefonou.... Melhor tomar um banho e arrumar as malas, depois telefono para ela". Lis se preocupava em acordar as pessoas da casa de Bia, mas o atraso foi conveniente, Lis sempre deixa para fazer as malas de última hora. Às 6h30, depois do banho, das malas e do café da manhã, Lis ligou o computador para se distrair até o sinal de vida de Bia, às 7h15, sem sinal, Lis se exaltou "ah não! não é possível".
- Alou.
- Oi, é.. A Bia está?
- Ela está tomando banho.
- Ah, então, desculpa ligar essa hora, mas é que combinei com ela às 6h aqui em casa e ela nem deu sinal de vida ainda..
- Ahhhh, certo, espera só um momentinho.
(Biaaa, a Lis no telefone)

- Liiiiiiiss!
- Bia! Como você faz isso comigo?

Combinaram de Bia ir para a casa de Lis em 30 minutos. Mas em 25, Bia retorna mudando o rumo do lugar - Vamos nos encontrar no terminal do ônibus e ir direto. Certo, às 8h.

Mas uma vez, Bia se atrasa, porém não mais que o ônibus que as deixaria na BR para Brasília. No terminal, encontram com Cacá e seu namorado, também estão indo para a BR pegar para carona para Brasília. Cacá é uma garota muito linda e sabe exatamente o lugar onde devem descer para pegar carona, combinam de quando chegarem em Brasília se telefonarem para se encontrar.

O ônibus chega, aliás, chegam dois e todas/os as/os passageiras/os entram no ônibus errado, quando se dão conta quem estava sentado ficou em pé, nisso se inclui as viajantes. O percurso é longo, ao chegar na BR Cacá e seu namorado vão para um extremo e Lis e Bia para outro.
Lis retira bolachas naturebas de sua mochila, duas folhas A4 e um canetão vermelho onde escreve:
CARONA BRASÍLIA
Cada uma com seu papel e com seu dedinho fazendo poses e sorrisos na BR. Em menos de 10 minutos um peugeot preto pára e o caroneiro, funcionário do MasterCard está indo para BSB. Entram no carro muito felizes com a facilidade de conseguir essa carona (um sussurro "está dando tudo certo"), eram 10h.

Durante o percurso da viagem, Robes, o caroneiro, conta para as garotas um longo período da sua vida, ele está indo para o Piauí, encontrar com a sua mulher - vai para o aeroporto de Brasília. Um funcionário exemplar da MasterCard, orgulha-se de seu trabalho e dá a cada uma das garotas uma pasta com uma carteira de cartão e blocos e canetas da empresa.

Ao 12h chegam em Brasília, Robes deixa as garotas logo na entrada do Distrito, em Candangolândia. Elas procuram por um banco - viajaram sem puto no bolso - e não encontram. Ligam para Marnin:
- Estamos aqui!
- Tem como subir para a Esplanada?
Elas, sem dinheiro e com fome, decidem andar em busca de um banco, mas no caminho encontram um posto de gasolina, se entreolham como se dissessem "E aí, vamos nessa?".
Dessa vez o caroneiro foi um massoterapeuta que não gostava da vida no Quadradinho de Goiás. Ele queria ir para o Nordeste, viver com sua irmã, a vida em Brasília era muito ruim. Apesar de sair de seu trajeto, o anjo da vez fez questão de deixar Lis e Bia na Esplanada, onde encontraram com Marnin.

sexta-feira, abril 27, 2007

Na estrada VII

- Como assim Bia?
- Eu vi uma placa ali na estrada, tava escrito “a chave é você”!
- Sério!?!
- Gente, não poderia ser de outro jeito.
- Cara, cê pira que o Marnin tinha acabado de falar “nossa podia tanto passar alguém que estivesse sozinho, indo de boa para a chapada, pra curtir” dai eu completei: “e que tivesse ouvindo uma música bacana...”
- É mesmo e eu já tava pensando isso a um tempão.
- É gente, foi só vocês falarem o que estavam pensando que aconteceu. É assim, pensou em alguma coisa, fale, que ela irá acontecer, as coisas que ficam só em pensamento, não se concretizam.
- Eu nem sei o que dizer, acho que vou pensar um pouco, tudo tá muito louco e estranho, estou quase tendo certeza de que deus existe – disse Marnin enquanto acomodava Godofredo na sua perna direita.
- Mas vem cá, vocês fumam um...?

quarta-feira, abril 25, 2007

Na estrada VI

-Para Cavalcante!
-Cavalcante!
-Caraaaaalho, Cavalcante.
-Noooooohhhh!!!

Foi como se algo lhes dissesse “vocês não estão indo para o lugar certo, mas agora podem ir”. El@s queriam ir para a vila de São Jorge, poderiam pegar a carona até Alto Paraíso, mas decidiram ir pensando no caminho se seguiriam até Cavalcante. O motorista do uno parecia ser um típico cara que estava indo sozinho para a chapada curtir, ouvindo uma música bacana no carro. E realmente, o era. Malas no porta-malas violão no colo das meninas, e pé no acelerador.

-Poxa, que massa que tu parou pra dar carona pra gente, eu sou a Bia.
-Eu sou a Lis!
-Eu sou Marnin e este é o Godofredo.
-E você como se chama?
-Meu nome é Arcanjo.

Um silêncio curto mas com a densidade de todo um milênio de eternos retornos pairou no ar por alguns segundo até a primeira exclamação.

-Cê tá brincando!?!
-Não... fala sério ai...
-É sério! Eu me chamo Arcanjo Daniel.

Foi como se todos acreditassem sem saber exatamente em quê. Como se acreditassem na bondade das pessoas, como se acreditassem que o que falta as pessoas é não deixarem o medo virar covardia, era como se uma força maior conduzisse os destinos comuns, como se a trupe tivesse que estar ali, e como se Arcanjo, sem saber tivesse atrasado um pouco a sua viagem, para que ambos pudessem se encontrar em São João d'Aliança para duas viagens se transformassem em uma só.

-Nossa!!! "A chave é você"!!!

segunda-feira, abril 23, 2007

Na estrada V

E tchan tchan tchan. “Nossa” Lis se surpreendeu com o esqueminha de gergilim que tinha lá na entrada do caixa. Essa coisa é mesmo gostasa, e é feita em Alto Paraíso sabiam? Marnin indagou com seu jeito de quem meio sempre tem alguma coisa pra contar sobre qualquer coisa. Seguiram de volta a estrada.

-Ahhh, gente foi aqui que eu encontrei o Renato, no natal – Marnin passara por ali com a família indo para sua cidade natal, Gurupi, passar o natal com a familia, avó prima tia e amig@s de infância.
-Sério, ele disse que foi o maior perrengue pegar carona aqui – Renato havia contado a Bia sobre a viagem do natal e sobre o encontro com Marnin que não pode então dar carona para o companheiro. O carro estava cheio.

Ali onde ficaram, um pouco depois do posto, os carros passavam em velocidade relativamente baixa. Eles passavam, olhavam os quatro, alguns acenavam, outros demonstravam expressões faciais que pareciam denotar “que falta de vergonha na cara”.

-Podia tanto parar alguém sozinho que tivesse indo pra chapada curtir...
-É que tivesse ouvindo uma música bacana no carro.
-É, podia mesmo né.
-Podia.

Ainda pensando na possibilidade, viram um uno mille quatro portas, mei esverdiadin, se aproximando pelo acostamento e parando na frente del@s. Não dá para colocar dentro de uma ou de todas as palavras, o tamanho, a vida, e a energia dos sorrisos e dos gritos de vibração da nossa trupe-mambembe- nova-era nessa hora.

- Cê tá indo pra onde? - pergutou Marnin meio gaguejando de emoção.

sexta-feira, abril 20, 2007

Na estrada IV

Leonilson entregou os documentos, o PM pegou e foi para tras da van verificar a placa, logo Leonilson desceu e foi conversar com o policial. Quando voltou, Marnin:

E ai, tudo certo?
Tranquilo, esse PM ai é novo aqui, já cheguei perguntando sobre outro PM que trabalha aqui para ele saber que sou de casa, vi que ele tava doido pra tomar um cafezin.
Esse santo aqui é forte – e levantou Godô com a mão esquerda.

Logo depois Leonilson parou a van na beira de um posto:
-É aqui que vocês vão ficar?
-Tá ótimo!
-Valeu Leonilson!!!
-Foi um prazer seu Leonilson!
-Feliz Pascoa!!!

Era um posto onde os viajantes costumavam parar. Entraram na lanchonete. Marnin foi por um salgado, Lis ficou procurando alguma coisa que não contivesse animais ou derivados, Bia foi ao banheiro. Um pastel gorduroso de carne para Marnin, uma pamonha meio dura e sem sabor para Lis, e Bia voltou do banheiro.

-Bein, cê qué essa pamonha, eu não gostei
-Humm, eh ela não está muito boa mesmo nao...
-Ei olha só!
-Pudim!!!! Humm que gostoso.
-Tá super gostoso.

Lis, largou a pamonha e foi por umas batatinhas ensacadas.
-Vamo!
-Vamo!
Vamo!

Na estrada III

Marnin sobresaltado chamou as meninas para que vissem aquilo. Leonilson começou a buzinar e a acelerar para cima da boiada, e a boiada foi se pisoteando, indo pros lados, e os carros foram passando. Foi mais de trinta minutos atravessando a boiada. Com nostalgia Marnin lembrava das viagens de ele criança, Faz mais de quinze anos que não vejo uma coisas dessas. Bia respondeu que nunca havia visto e Lis ficou grilada com a situação da boiada. Era gado se pisoteando, uns bezerrinhos desse tamainzin – tipo uns menos de 50cm de altura – com aquele olhar de insatisfeito e condicionado, ao mesmo tempo, com a condição de animal domesticado, criado na engorda para servir de alimento a menos de 20% da população mundial. Talvez se não houvesse ali naquela estrada um grande fluxo de caros indo e vindo – era feriado de semana santa – seria um bom exercícios para a boiada.
Passada a boiada a viagem seguiu tranquila até a entrada de São João d'Aliança. A van se aproximou vagarozamente do posto policial e havia lá um PM, Godofredo tinha os dedos cruzados, e Leonilson que já havia alertado sobre os problemas que poderiam enfrentar ficou mais calmo quando viu que se tratava de um PM e não de agentes da AGR.

-Documentos pessoais e do veículo!
-(...)

segunda-feira, abril 16, 2007

Na estrada II

Ele se chamava Leonelson. O som da van tocando calcinha preta e ele depois de dar uma breve olhadinha para cada um dos quatro trocou o cd. “Quando deus te desenhou...” Marnin puxou uma conversinha com leonelson enquanto Lis e Bia puxavam uma palhinha na parte de trás da van.

-Se a AGR estiver na entrada da cidade vocês vão ter que descer.
-É só cê fala que a gente desce.
-Mês passado tomei uma multa de 5 mil reais. Esse carro só tem permissão de transportar duas pessoas em rodovias intermunicipais.
-Tranquilo a gente desce, mas o São Godofredo vai abençoar a estrada da gente, e num vai ter AGR não.
-Eh... esse período de feriado prolongado eles sempre tão lá, mas vamo vê se esse santo é forte então.

Com os olhos entreabertos, numa espécie de cochilo atento, depois de uma curva eles deram de cara com uma enorme boiada. Era boi, vaca, bezerro, novilha, quase todos branquin nerole. Ocupavam as duas pistas da estrada e já havia ali no fim uns tres ou quatro carros quase parados esperando a boiada passar.
-Porra, como que esses peão me pega um dia desses para fazer isso, sô
-Caralho, puts, hihi...

quarta-feira, abril 11, 2007

Na estrada I

O amigo resmungou frases aglutinadas e pelos gestos Marnin entendeu que sim. Lis e Bia estavam procurando o melhor lugar do acostamento para ficarem. Um sorriso ainda que duvidoso fez com que Lis e Bia soubessem que estavam na estrada certa. Do bolso da capa do violão, Marnin resgatou Godofredo que pela primeira vez pegaria carona na vida. Com palavas de esperança e carinho Marin tranquiliou Godô que animado posicionou-se para ajudar a pedir carona. Os quatro pareceiam uma trupe de artistas mambembes nova era. Lis pegou seu kit pinturas de lista de material escolar, pegou um bloco de papel que havia ganhado de presente do cara que tinha dado a carona até Brasília e forjou um prática plaquinha onde escreveu em letras legíveis a alta velocidades: Alto Paraíso.Bia pegou a plaquinha de Lis e logo empunhou sorridentemente na direção dos carros que passavam sempre surpreendidos com o fato de quatro “jovens” pegando carona. Aos poucos já haviam desenvolvido uma série de trejeitos mágicos para convencer as pessoas de bom coração de que se tratava de pessoas simples e interessantes, artistas.
Depois de subirem um pouco a estrada em direção ao trevo e de Lis ter encontrado um ramo lindo de florer rosadas na beira da estrada, “Nenhuma pessoa de bom coração resistirá ao truque das flores”, notaram ainda com uma certa dúvida uma van escolar que parara logo a frente no acostamento. Marnin correu e:
-Tá indo pra onde?
-São João d'Aliança.
-Fica a que distância de Alto Paraiso?
-Ah, fica uns 60 km.
-Tá ótimo =)

terça-feira, abril 10, 2007

Na estrada

Marnin ainda estava descrente e um pouco sonolento quando o cobrador lhe disse:

-Ou, psiu...

-Hum...

-É aqui!!

-É aqui!?

-É, é aqui.

-Gente, é aqui!!!


Pegaram a bagagem, percorreram o corredor de olhares impressionados e julgadores.

Estavam na estrada, literalmente na estrada. Estrada essa palavra que não escapada de uma viagem, que carrega consigo segredo, que insinua mistérios, e que nos leva entrecidades, entrevidas, entresonhos, entre na estrada e nem imagine, por que o que acontecer não daria para imaginar. Um pequena dúvida sobre se estariam ou não na estrada certa fez Marnin ir até a borracharia perguntar se:


-Amigo, essa estrada vai para Alto Paraíso.