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terça-feira, outubro 31, 2006

O CMI Nova Iorque responde à morte de Brad WILL


Com ódio e tristeza no coração, republico aqui a carta do indymedia Nova York em relação ao assassinato do companheiro Brad por forças policias a paisana da cidade de oaxaca controladas pelo tirano Ulises Ruiz Ortiz.

Informações sobre o assassinato de Brad em: http://midiaindependente.org/pt/blue/2006/10/363227.shtml

Se um de nós cai, dez se levantarão. Acompanhe os atos nas embaixadas do México pelo mundo em solidariedade aos povos oaxaqueños em : http://midiaindependente.org/

29 de Outubro de 2006
Cidade de Nova Iorque

Brad Will foi morto no dia 27 de Outubro de 2006, em Oaxaca, México, enquanto trabalhava como jornalista para a rede global Indymedia. Foi baleado no torso enquanto documentava um ataque paramilitar armado à Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca, uma fusão de professores grevistas e outras organizações comunitárias exigindo democracia no México.

Os membros do Centro de Mídia Independente da Cidade de Nova Iorque lamentam a perda desse amigo e colega inspirador. Queremos agradecer a todos que enviaram condolências ao nosso escritório e postaram memórias no www.nyc.indymedia.org. Compartilhamos nossa dor com o povo de nossa cidade e de onde viveu, trabalhou e lutou com Brad durante o curso de sua dinâmica porém curta vida. Nós podemos somente imaginar a dor do povo de Oaxaca que perdeu sete de seus vizinhos nessa luta, incluindo Emilio Alonso Fabian, professor, e que agora lida com uma invasão das tropas federais.

Tudo que queremos em compensação por essa morte é a única coisa que Brad sempre quis ver no mundo: justiça.

  • Nós, junto com todos os amigos de Brad, rejeitamos o uso de futura violência apoiada pelo estado em Oaxaca.
  • O Centro de Mídia Independente da Cidade de Nova Iorque apóia o pedido do Repórteres Sem Fronteiras por uma investigação completa por parte das autoridades mexicanas acerca do uso da polícia municipal à paisana como uma força política paramilitar por parte do Governador do Estado de Oaxaca, Ulises Ruiz Ortiz. A prisão dos agressores não é o bastantes.
  • O CMI NYC também apoia o chamado do Subcomandante Insurgente Zapatista Marcos "aos compañeros e compañeras em outros países para se unirem e exigir justiça por esse compañero morto." Marcos lançou esse pedido "especialmente para a mídia alternativa e livre aqui no México e em todo o mundo."

O Indymedia nasceu na visão Zapatista de uma rede global de comunicação alternativa contra o neoliberalismo e pela humanidade. Acreditar no Indymedia é acreditar que o jornalismo está a serviço da justiça ou é uma causa da injustiça. Nós falamos e escutamos, resistimos e lutamos. Nesse espírito, Brad Will foi ao mesmo tempo um jornalista e ativista dos direitos humanos.

Brad era uma parte deste movimento de jornalistas independentes que vão onde a mídia corporativa não vai ou ficam um longo tempo depois que elas vão embora. Talvez a morte de Brad teria sido prevenida se as corporações midiáticas mexicanas, internacionais e americanas tivessem contado a história real do povo de Oaxaca. Então aqueles de nós que vivem confortavelmente não estariam só ouvindo falar dessa greve de 5 meses agora, ou sobre essa luta de 500 anos.

E talvez Brad não sentisse necessidade de encarar esses assassinos em Oaxaca somente segurando um ineficiente passaporte americano e um cartão de imprensa estrangeira. Talvez Brad não teria entrado na lista cada vez maior de jornalistas mortos em trabalho, ou na lista ainda maior daqueles mortos nos últimos anos por tropas defendendo o poder injusto e entrincheirado na América Latina.

Ainda, aqueles de nós que conheciam Brad sabem que seu trabalho nunca seria finalizado. Dos jardins comunitários do Lower East Side aos acampamentos do Movimento Sem Terra no Brasil, ele teria continuado a viajar para onde o povo que faz desse mundo um lugar bonito resiste, à aqueles que causam morte e destruição. Agora, em sua memória, viajaremos todos por essas estradas. Nós somos a rede, todos nós falamos e escutamos, todos nós resistimos.

Centro de Mídia Independente da Cidade de Nova Iorque
www.nyc.indymedia.org
4 W. 43rd St., Suite 311
New York, N.Y. 10036
USA / EEUU
212-221-0521

quarta-feira, setembro 13, 2006

Criança







Para iniciar a criança,

tenho pétalas, vozes e cio.
Com o que tenho, teço
não penso
crio

doses de inocência contumaz,
notas de sandice renitente,
tudo de repente junto
num canto.

Para começar a criança,
me encrianço numa ciranda
que não dá valor ao que tem preço,
um mundo não se compra,
não se assiste

muda.
Em direção ao vento
a criança aponta,
sempre crescendo como nunca,
Cresce de não se conter,
de derramar,
explodir

seus estilhaços, versos-pássaros,
vestem de seda o céu
perfumam de catarse o ar

Pronta, a criança
pede licença
e vai encantar...


quinta-feira, agosto 24, 2006

“Triunfo”



- Íris, Marconi, assassinos!

- Íris, Marconi, assassinos!



Milicos malogros melecas
políticos cínicos patetas
advogados putos pagos
jornalistas parasitas manipulados
Judiciários vis salafrários

: Profissionais constitucionais :

Para manter a ordem
Para enganar o povo
Para ludibriar o júri
Para construir os fatos
Para condenar a vida

A balança viciada,
erguida pela cegueira,
incrimina a verdadeira
vontade libertada.

E as bandeiras hasteadas
-cinematografadas cenas-
tornam as atitudes insanas
mantém as bocas caladas.

Na podre república das bananas,
onde a independência morre de fome
e, debaixo das pontes, a dignidade some,
cai do céu o choro divino
entristece o dia, dilui o sangue
que os cães bípedes beberam feito Tang
depois de tirarem do berço os braços fortes
daqueles que inventavam um outro hino

E no boteco da esquina
Tião sorve uma dose e resmunga:
- O único direito do pobre, menina,
é só ser dono da própria tumba.



16 de fevereiro de 2005

quinta-feira, agosto 10, 2006

Imã




Um caminhante anda pelas ruas da noite
Sob sua cabeça uma Lua
Ilumina pensamentos celestes
-tão diferente
E ainda tão bela quanto antes.
Ela se foi acenando,
o caminhante segue,
Cabeça baixa, os bolsos esquentam as mãos,
pensando no céu.
É tão ruim que ela se lembre apenas da dor
é pra longe disso que ele quer ir.
Quando era criança estragou uma caixa de som
vendo-a fugir, ele se lembrou de quando o imã caiu e
quebrou...
as partes não mais puderam se unir.
A criança teve que brincar de afastar...
 
Sentir-se,
só uma vez,
preso por vontade?
O caminhante pensa que não, mas sente que sim:
"- Devolva minha chama que você sugou com um beijo
quero, com ela, reacender-me e me queimar
e quando nossas mágoas estiverem mortas,
vou cremá-las!!
Se queres recordação do que te fez sofrer
não me peça para dá-las a ti.
As minhas, a cada vez que elas vem á tona,
sinto-as na pele,
mas estou aprendendo a suportar o frio...
Quero descobrir o lugar das coisas abandonadas para pô-las lá.
E que elas façam companhia a tudo que deve ser descartado.
Assim, terei em mim apenas a lembraça de um belo sonho
em que a Lua veio me iluminar,
e saimos por ai como partes de uma mesma coisa.
 
E que, um dia, chamamos de amar ..."

sábado, julho 29, 2006

impróprias palavras


Esse exercício surgiu a partir da leitura de uma diarreia de pensamentos, parece ser uma também, sem deixar de ser um exercício, um exercicio imaginário em forma de diarréia de pensamentos.

"O mundo é tão grande e a vida é tão curta. Pode ser dor aquela angústia de que você poderia ter feito algo mais, as coisas sempre podem ser melhoradas, esteja sempre certa de que aquilo que você fez chegou perto ou foi o máximo do que você poderia ter feito. Isso não é uma disputa, acho que é amor. É difícil interpretar toda o emaranhado de sentimentos que se sente num momento como esse e a certeza de que valeu a pena. Afinal, tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. "
(http://diarreiadepensamentos.blogger.com.br/)


(fazer o que não deveria ser feito é necessário. não se saberia fazer o que deve ser feito, caso contrario. mas é que ainda não se aprendeu a perdoar sem engolir seco e fechar em milímetros o olhar. dizem: "Os sábios são, por definição, inseguros!" Quem sabe ao certo definir a certeza de uma insegurança quando o que se espera são atitudes bem objetivadas e que dêem resultado paupável? será justo passar a odiar algo tão belo por não conseguir conviver com esse um resquício aparentemente indestrutível e eterno? - uma lembrança que queima e anestesia... esse um alfinete, prendendo os lençois ao canto do quarto que costumava ser o ambiente onde a fusão acontecia e que proporcionava uma sensação inabalável de alheamento, de invunerabilidade, não quer acreditar que há possibilidade de se sentir tranquilo mesmo ciente da certeza de estar inseguro. Ele está tentando se abrir e soltar os lençois, e soltar a lembrança, e tê-la na parte mais especial do armário das belas recordações. está disposto a não ser mais um alfinete, está procurando algo mais agradável em que se transformar, quer ser um objeto aveludado e macio, quer ser um sujeito de carinho, um acompanhante, um amigo, um ...)

quinta-feira, junho 29, 2006

(-: amarte=siamar ;-)

- Vamos caminhar?

- (...)


Quando você avança um pé
ela lhe dá a mão
quando o outro vai
ela te solta e você cai
no chão

quem sabe você não faria o mesmo?
quem sabe se agora fará?

é preciso conversar
não sabemos como agir
mas estamos certos
devemos tentar

somos amigos
o que queremos esconder?
se desejamos ficar bem
não há mal em ser natural
vamos nos dar prazer
e mostrar a beleza
a quem, por medo,
não quer acreditar
que há como ser sincero
que há como ser eterno

se se sabe a si
-amarte-
se se sabe
-siamar-

quarta-feira, junho 21, 2006

SoulRio

quando se sai por ai, pra conhecer outras partes da vida, geralmente, acontece uma surpresa atras da outra, de repente voce conhece uma pessoa muito legal e descobre que ela tb tah toda enroscada nos vinculos que criou assim como voce, voce encontra uma cidade onde existem milhares de cidades ao mesmo tempo, e voce acaba passando por algumas delas, mas nunca todas, e isso deixa uma vontade eterna de sempre voltar, voce sente o perfume das pessoas novas e o fedor de uma baia quase morta, e ve as pessoas fingirem que nada esta acontecendo, dai voce atravessa a cidade e ve coisas tao belas que te fazem acreditar em deus, porque o arco-iris nasce ali naquela fabulosa pedra que vai sendo modelada pelas ondas do mar, dai voce deseja tomar algo e descobre que desse lado da cidade tudo eh tao mais caro, em consequencia disso percebe-se que nao ha nenhum outro lugar onde voce jah tenha ido que seja assim, com uma desigualdade tao gritante, em todos os sentidos, e a geografia eh o mais aparente deles, e voce atravessa uma ponte, ou pega uma barca e vai de um lado para o outro, atravessa a baia no meio de lixos e mais lixos, e ve que existem barcos pesqueiros ali, e imagina que tipo de peixe pode sobreviver naquele ambiente inospito, devem ser parentes proximos dos que vivem no Quarto de despejo. Eh as ocilaçoes sao tao grandes que voce acaba percebendo que nao eh soh voce que eh uma metamorfose, que tudo ao seu redor vai se transformando, e sente uma imensa tristeza pois tais mudanças parecem sempre ser pra pior, mas ai voce fica sabendo que existem pessoas que tiram seus direitos do papel e ocupam espaços vazios, na terra no mar no ceu e no ar, e ve um belo jovem negro, no Largo da historia do centro da cidade, batucar freneticamente na sola de uma botina e gritar que aquela eh a reza dele e que o deus dele nao quer ver ninguem se ajoelhar dai voce pensa que o teu deus tambem nao, e dai tu vai voltando pra ilha, e com os proprios olhos, descobre que aquele palhaço profeta, mencionado numa bela canção, e que perdeu a familia quando o circo pegou fogo realmente escrevia grandes verdades no nosso caminho. e que bom que essas palavras tenham resitido ao emprodrecer da zona mais esquecida da cidade. e quando se tem que voltar pra casa, sente-se vontade de chorar, mas como quem sabe que nao vai demorar muito pra voltar eu soulRio...

terça-feira, maio 16, 2006

por quanto tempo...

Nos dias difíceis, nos dias em que a vida parece ser não mais do que círculos num relógio de parede, o ponteiro das horas apontando pro céu, o dos minutos apontando pro inferno. As árvores ao sabor do vento pela janela e os pássaros cantando tímidamente. um corpo jogado num sofá com cheiro de mofo, cheiro de coisa guardada por muito tempo, torna-se quase que um objeto inanimado exceto por um descompassado piscar de olhos e uma disritimada respiração. O telefone não toca, a campainha não toca, o interfone também não e a música de tão melancólica parece ser um silêncio, um silêncio assim que se escuta com atenção. A saliva engolida como ácido sulfúrico... Assim como uma idéia aparece, um calor começa a percorrer o corpo, um calor que se inicia no peito e se alastra... De súbto um sorriso aparece... os pés tocam o chão e a vida torna-se uma guerra. E como um guerreiro nato ele se ergue e procura a caneta, sua arma azul, e pensa "Sai de mim por que eu não quero mais saber de você"... Um banho frio o faz nascer de novo... é, mas por quanto tempo...

terça-feira, abril 25, 2006

A manhã de amanhã

- O que você vai fazer amanhã de manhã?
- Amanhã de manhã?
- É, amanhã de manhã.
- Ué ... num sei...

(silencio)

Como uma pergunta tão simples pode derrubar o ânimo de uma pessoa? Me senti um enorme ponto de interrogação. Muita gente vai trabalhar, mas um tanto vai estudar, outro tanto vai se encontrar com alguém pra fazer alguma coisa, entre outras possibilidades. Mas eu, nem havia pensado no que faria amanhã de manhã, como não havia pensado no que faria pelo resto da vida. Quando se está perdido, qualquer direção é confortante, e acaba-se entrando numa floresta de espinhos da qual não há maneira de sair sem atravessá-la por inteiro. A calma que toma conta de mim, me aflige porque parece impedir que eu tome logo uma decisão, parece sempre dizer Não se aborreça há de chegar a hora do descanso...

Vai passar... espero

Me aproximo de novas pessoas, mas um sentimento de incapacidade de amar toma conta do meu coração, é como se nos fosse permitido apenas uma vez na vida o sentimento inexplicável que faz você pensar que daquela hora em diante a vida tem sentido, e pensamos no futuro como algo modelável, que só precisa de uns pequenos planos entre as partes. É, se posso dar conselhos aqui, fica esse: quando sentirem isso cuidem bem desse sentimento, ele precisa de um carinho todo especial, caso contrário você perde a chance e o que era tão alíviante passa a ser um um descontrole total. Torna-se o oposto do que sempre foi...

terça-feira, abril 04, 2006

Transplante

hô coração vazio, coração frio, coração lerdo, preguiçoso, hô coração sem gosto, sem força, sem ritmo, coração manga, deixando fiapos entre os dentes, coração pequi, que tem que ser consumido com receio, jah estou farto de você, mas o que resta ao seu dono... já não aguento mais coração insosso, não se move, não se insinua, hô coração mudo, deixa de ser metido à estátua de bronze... O que será que vai lhe tirar desse estado de choque, o que fará você deixar essa indiferença.... se continuar assim terei que ameaça-lo... conheço um cardiologista... que tal um traspalnte?

sábado, abril 01, 2006

ChuvemGirassóis

Ás vezes a chuva me faz lembrar... nada está tão preso que não possa escorrer. há um fingimento sucinto e sutíl, quase que imperceptível, na impermeabilidade do passado, e ficar imune a enxorrada de lembranças marrons é um desejo prematuro. Nem um guarda-chuva pode proteger doces pensamentos, dissolver-se é questão de coragem, para quem vive do medo.... Os girassós perderam sentido

terça-feira, março 07, 2006

Sentimin todomudo


Te estendo a mão

Com ternura na ponta dos dedos

Mas o barulho da insânia

Afugenta a beleza e vicia o coração

Seu toque frio é feitiço

Insisto na tentativa do abraço

E o que fica é um olhar desentendido

Após acordado o corpo em cansaço

Um pensamento cochicha

A ternura dos meus dedos na tua tez

Dizendo

Tenha firmeza nos pés

E ande...

Dance na ciranda da sublimação

Com carinho, peço atenção

E por te amar não posso deixar de pedir...

Cuidado para não tropeçar em si

E procure reservar o pouco tempo

Que você deixa sobrar...

Para se analisar

A ampulheta já caiu e quebrou

Mas dá pra catar os segundos

esparramados pelo chão

Junte-os numa pequena caixa

Escolha uma palavra mágica

E use-os com calma,

A paciência é capaz de transformá-los

Em horas

Se queres perdê-las,

Entregue-se

Com esforço

as ilusões podem ser eternas

com a alma ébria e o corpo em deleite

anestesiado para ser

Livre

E quando resolver fazer silêncio

Escute o que ele tem pra te falar

pequena vida inteira

Fiquei muito tempo longe daqui, foi... tava tentando chegar perto de mim. tem sido uma caminhada longa, subindo ladeiras da preguiça e descendo as baixas da alegria. As mesmas caras as mesmas falas as mesmas salas e as mesmas balas não nos adoçam mais. É que os desejos já são outros, outros planos, outras vontades, no sentido da experimentação, o que quer-se é ser degustador de vinho do Porto, tirar a prova as inúmeras possibilidades de uma pequena vida inteira...

domingo, janeiro 22, 2006

A justiça é feia, eu vi de perto

Ei escuta aqui, tenho uma coisa pra falar. Sabe a justiça? Vi ela ontem. Acho que ela nunca esteve tão feia. Talvez esteja dizendo isso porque olhei nos olhos dela. Ela não é cega não, sabe. Ela é vesga. Sabe como eu fui parar lá, frente a frente com ela? Eu tava um dia aí, dizendo que as coisas não deveriam ser como são, daí um servo dela me pegou pelo braço e disse Você está preso. Fui preso, humilhado, não pude almoçar, tive meus pulsos apertados por algemas e me senti mal por estar fazendo o que é certo. Mas não vai ficar assim não, eu sei que eles acreditam em Deus e se acreditam em Deus estão fudidos, porque vão queimar com o Capeta no inferno, e serão espetados com os tridentes dos capetinhas risonhos.

Daí vem o topete da justiça me dizer que o papel do estado era fazer com que algo negativo (ou seja dizer que as coisas não deveria ser como são) se torne algo positivo (ajudar os doentes de um hospital). Bem num é que eu queira dizer que ajudar doentes não seja algo positivo, mas em hipótese alguma dizer que as coisas não deveriam ser como são é algo negativo. Agora, se é pra ser assim então tá, vou lá dizer para os doentes do hospital para eles num deixarem de dizer o que eles acham que não deveria ser como é...

quarta-feira, janeiro 11, 2006

em busca de remédio...

Andando na rua, de volta pra casa, ele sentia uma dor de estomago. Havia dias que não se alimentava direito e estava já a mais de um mês entregue a satisfação imediata dos desejos, mas pensava agora que não havia obtido sucesso algum nessa tentativa de viver uma vida sem mais demanda que não o embriagar-se com pessoas amigas. Seu corpo dava sinais de cansaço. Noites inteiras sem dormir e cochilos pelos cantos durante o dia. Chegou em casa, e o sofá era tão providencial que nem tirou o tênis, foi caindo. Uma febre começou a acometê-lo; iniciou-se, pela nuca, uma quentura que logo tomou conta de todo seu corpo. A boca salivava, o estomago ainda doía, era uma ânsia de vômito que chegava sem se apresentar e assumia papel principal. Lembrou das besteiras que havia comido alguns minutos atrás, “Seria bom mesmo que aquele lixo todo saísse do meu corpo de uma vez”. As vistas foram escurecendo e o braço esquerdo caiu do sofá, sua mão chocou-se com violência contra o chão sujo de seu apartamento. As mini moscas rondavam o lixo da pia, e os malditos pernilongos (qual a razão de existirem?) saboreavam seu sangue ébrio e saiam meio tontos, z-z-z-z-z. Começou a chover, a janela aberta deixava alguns pingos respingarem no seu corpo. Pensou em fechar a janela, mas não havia força para isso. Era uma alma que de tanto castigar o corpo, recebia o troco, sem parcelamento. Os delírios foram chegando, um a um, e logo ouviu-se gemidos estridentes. Sussurrou na direção de deus: Me leve agora...

Caiu no sono e seus sonhos foram ainda mais doentes que sua própria ocupação na realidade dos dias. Então, uma mulher, vestida de um branco translúcido, veio sentou-se no sofá, pôs o rapaz no colo, mediu sua febre, massageou sua cabeça, acariciou seus cabelos. Soprou sua ferida secreta. Ele suspirou fortemente, parecendo aspirar a própria alma que já escapava pelos poros e orifícios do corpo. Acordou com uma vontade imensa de retribuir o agrado àquela mulher. Olhou em volta de si, não havia mulher alguma. Em seu peito o coração batia suave e em silêncio, a casa cheirava a sândalo, ao seu lado, apenas a fumaça de incenso perfumando o ambiente e acalmando-o. Levantou e foi beber uma taça de vinho. Mas não havia mais vinho. Procurou o cigarro, não havia mais. Sobre o balcão de ardósia somente um livro. Pegou-o em suas mãos. Era um Clarisse (seria ela a mulher?)... "É com uma alegria tão profunda. É uma tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que se funde com o mais escuro uivo humano da dor de separação mas é grito de felicidade diabólica. Porque ninguém me prende mais. (...)" E incorporou-se àquele improviso, e assumiu transparência de Água Viva...

terça-feira, janeiro 10, 2006

Para passar-o-só...

"Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém. É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmo - que amamos" Livro do Desassossego - trecho 112.


A Solidão é uma mulher de cabelos negros e longos, de olhos vaziamente profundos e lábios pálidos lilases. Seus dentes, mais brancos que a lua cheia, quase não aparecem em seu sorriso nem natural, nem amarelo Ela anda, sem rumo, mas sempre encontra a direção certa, como se os gritos da noite lhe mostrassem o caminho. E foi assim que achou o caminho de minha casa. Ela está sentada do meu lado e passa a mão pelos meus cabelos. Seus dedos frios tocam minha nuca, sinto um arrepio nas entranhas, ela me sussurra canções no ouvido. Ainda tenho a sensação de estar só, mesmo estando acompanhado de tão fascinante capricho da vida. Ela me faz companhia nessas infindas noites de insônia, com o seu falar silencioso, seu olhar terno. Me aconchego no seu colo, e começo a olhar, com as mãos, a suas mãos e a contar os seus dedos. Toco os seus lábios com a ponta do dedo mínimo, Ela beija minha testa e me diz com um sincero olhar que meu coração precisa descansar...

Mas meu corpo quer calor, quer provar o sabor da maçã, esteja ela madura, verde, de vez. É um querer assim... com um não sei o quê que me deixa de cabelo em pé, que afeta meu sono, já nem consigo mais lembrar os meus sonhos. Sinceramente, eu não estou sendo bom com Solidão, tudo bem que Ela seja uma presença agradável, mas é que, na verdade, estou cansado dessa coisa de Ela sempre chegar sem avisar. Dessa última vez que ela veio me visitar, eu estava esperando Alguém, só que Ela chegou antes e Alguém não quis aparecer, então caí nas invisíveis armadilhas dos seus lisérgicos encantos e agora estou absortamente impregnado por uma idéia repleta de uma peculiar insanidade que guia meus gestos e ordena minhas palavras.

Ainda assim, meu coração, mesmo cansado, vai para a estrada, a procura, pedir carona, rumo a terra dos sentimentos perdidos...

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Silenciódio

Já se passaram mais de duas horas, e fiquei sem falar palavra durante todo o tempo, estou só, e enumero em pensamento minhas posses. Tenho um piano no quarto esperando ser afinado, é quase uma vida esperando sentido. Tenho uma dor de garganta que ganhei de presente da chuva. Tenho os móveis que imóveis estimulam a permanência do silêncio. É que nos últimos dias eu falei demais, todos já sabem das minhas incongruências sentimentais. Falei, pra você, pra ela, pra ele. E agora estou a mais de duas horas em silêncio, escuto o som das teclas sendo apertadas e só. Tenho um segredo que gostaria de não contar mas o silencio é só vocal, os dedos continuam escrevendo pensamentos... é que num sei mais os limites entre amor e amizade, na verdade sei pouco sobre o amor e desconheço a amizade. Ontem, uma amiga veio aqui e senti ódio dela por ter me provocado com sua beleza interior... Fiquei com vontade de fazer amor... com vontade de me doar... mas ainda não me pertenço... Sabe quando se quer ter tudo ao mesmo tempo e acabasse em frente ao computador escrevendo sonhos que não se tornarão realidade? Deixei de agir para escrever e agora me sinto doente... por sentir um pequenino prazer na dor, invisto na solidão em busca de versos bonitos e o que tenho são filhos bastardos e é por odiá-los que os ponho na rede, por não me sentir dono deles é que solto-os por ai, com uma ânsia de que sejam ridicularizados...

domingo, janeiro 08, 2006

Braços e lágrima

Vou sair

pra caminhar

passear

Por outros braços

sei que nos reencontraremos

sei

em nossos abraços


mas

meus passos ainda patinam

passam por pequenos

movimentos vãos

não me atino

não escolho direção

só sei que quero

sentir

de uma vez

o desejo encarnado


escorrer

pelos cantos

da boca

arder

os olhos

arrepiar

o corpo

rasgar

a roupa


e se doer

se uma lágrima

no escuro

quiser sair

deixarei


Será você

também

caindo nos braços

por onde andarei

Passeio...

Tem um visinho meu, ali de baixo, que certa vez me disse, Voce é um cara estranho..., eu respondi agradecido. e é por ser estranho a mim mesmo e a outrém, que resolvir brincar com as palavras aqui nesse oceano de informação. Meu desejo é que as palavras que ficarem por aqui tomem a forma dos peixes luminosos que habitam as profundezas do mar. quero sussurrar, quero respirar, aspirar e expirar-me, quero enfiar o dedo na ferida, jogar pedra na cruz, tirar cisco de olhos alheios e também ser um cisco em olho alheio. Esses dias, entrei dentro de um tufão e senti aquele vento forte quase me arrancar os cabelos, fiquei tonto, assim, como quando se fica sem dormir ou sem comer, e foi bom sentir o frio na barriga, a ânisa, pude conhecer o que estava nos meus bolsos e que saiu voando por ai, pude saber o que se escondia em mim enquanto eu vivia acomodado com o incômodo de pensar em ser feliz pra sempre, e sobreviver ao pelotão de fuzilamento em carros de som que me acordam todos os dias com propagandas de calçado, tecido e pamonha... tenho a janela do meu quarto voltada para o caos do centro de goiania, e esse caos me azucrina, é uma punhalada nas costas do meu sono perturbado, já que tenho tentado dormir pela manhã quando o corpo não resiste mais. Aos conhecidos desconhecidos, escrevo exercícios de imaginação com inocência de adolescente que escreve diário simplesmente para queimá-lo no final do ano, mas neste caso o fogo não serve. Fico a esperar um virus febril ser espirrado na minha cara, para botar meu sistema imunológico em ação, pois sei que ele sabe bem utilizar as palavras do corpo e dá alma na luta por uma sobrevivência amena, simples... mantenho-me estirado no precipício das sensações segurando na beirada com os dedos da literatura...