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terça-feira, janeiro 10, 2006

Para passar-o-só...

"Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém. É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmo - que amamos" Livro do Desassossego - trecho 112.


A Solidão é uma mulher de cabelos negros e longos, de olhos vaziamente profundos e lábios pálidos lilases. Seus dentes, mais brancos que a lua cheia, quase não aparecem em seu sorriso nem natural, nem amarelo Ela anda, sem rumo, mas sempre encontra a direção certa, como se os gritos da noite lhe mostrassem o caminho. E foi assim que achou o caminho de minha casa. Ela está sentada do meu lado e passa a mão pelos meus cabelos. Seus dedos frios tocam minha nuca, sinto um arrepio nas entranhas, ela me sussurra canções no ouvido. Ainda tenho a sensação de estar só, mesmo estando acompanhado de tão fascinante capricho da vida. Ela me faz companhia nessas infindas noites de insônia, com o seu falar silencioso, seu olhar terno. Me aconchego no seu colo, e começo a olhar, com as mãos, a suas mãos e a contar os seus dedos. Toco os seus lábios com a ponta do dedo mínimo, Ela beija minha testa e me diz com um sincero olhar que meu coração precisa descansar...

Mas meu corpo quer calor, quer provar o sabor da maçã, esteja ela madura, verde, de vez. É um querer assim... com um não sei o quê que me deixa de cabelo em pé, que afeta meu sono, já nem consigo mais lembrar os meus sonhos. Sinceramente, eu não estou sendo bom com Solidão, tudo bem que Ela seja uma presença agradável, mas é que, na verdade, estou cansado dessa coisa de Ela sempre chegar sem avisar. Dessa última vez que ela veio me visitar, eu estava esperando Alguém, só que Ela chegou antes e Alguém não quis aparecer, então caí nas invisíveis armadilhas dos seus lisérgicos encantos e agora estou absortamente impregnado por uma idéia repleta de uma peculiar insanidade que guia meus gestos e ordena minhas palavras.

Ainda assim, meu coração, mesmo cansado, vai para a estrada, a procura, pedir carona, rumo a terra dos sentimentos perdidos...

Um comentário:

`´é`´ disse...

não quero fazer ninguem chorar, quero fazer as pessoas mudarem o ritmo da respiração, que elas não se escondam se se identificam com o que foi escrito. E se você chorar que seja um choro que não doa, que seja um choro emocionado e suave...

bjo

`´é`´